A Surpreendente Performance do Botafogo na Fase de Grupos do Mundial de Clubes


Introdução

O Botafogo, atual campeão da Copa Libertadores e oitavo colocado no Brasileirão, chegou ao torneio em sequência de três vitórias e manteve a maior parte do elenco campeão continental, apesar das saídas de Luiz Henrique, Thiago Almada e, em breve, Igor Jesus. Para reforçar o plantel, o clube contratou os atacantes Arthur Cabral, Joaquín Correa e a jovem promessa argentina Álvaro Montoro.

O clube carioca acabou no grupo considerado um dos mais difíceis, com dois gigantes europeus, incluindo o campeão da Champions League, Paris Saint-Germain — a potência espanhola Atlético Madrid, e uma forte equipe americana, Seattle Sounders, e ainda assim conseguiu terminar em segundo lugar, com duas vitórias e uma derrota.

Jogo 1: Botafogo vs Seattle Sounders

O Botafogo derrotou o Seattle Sounders por 2–1 na primeira rodada do Mundial de Clubes, em uma partida caracterizada por dois tempos muito diferentes: um primeiro tempo dominante do lado brasileiro e um segundo tempo largamente controlado pelos americanos.

O Botafogo começou em formação 4-4-2, com Igor Jesus e Mastriani na frente. Savarino e Barboza retornaram ao time titular após perderem a partida anterior.

Apesar de ter 55% de posse de bola no primeiro tempo, o Seattle não conseguiu registrar um único chute no gol. O Botafogo, jogando de forma mais direta, teve sete chutes — quatro no alvo — e marcou duas vezes, ambas de jogadas aéreas. O primeiro veio de cabeçada de Jair após falta cobrada por Alex Telles; o segundo foi um gol de cabeça de Igor Jesus após cruzamento do lateral-direito Vitinho. O Sounders teve dificuldades defensivas no ar, vencendo apenas 36% de suas disputas aéreas no primeiro tempo.

No segundo tempo, o Seattle não conseguiu aproveitar: teve 19 chutes, mas apenas 5 no alvo — uma taxa de acerto de 26%. A equipe trocou mais passes, ocupou o terço final e aplicou pressão, mas foi prejudicada pelo mau aproveitamento e pelas defesas de John.

A mudança na estratégia defensiva do Botafogo entre os dois tempos pode ser ilustrada usando gráficos de PPDA (Passes Permitidos por Ação Defensiva). Esta métrica é calculada dividindo o número de passes que o oponente faz pelo número de ações defensivas (interceptações, desarmes, duelos e faltas) da equipe analisada. Valores mais baixos de PPDA indicam maior intensidade de pressão. A imagem abaixo mostra o PPDA do Botafogo por zona no primeiro tempo.

PPDA do Botafogo por zona no primeiro tempo contra Seattle Sounders.

No primeiro tempo, o Botafogo pressionou principalmente na zona logo além do meio-campo, sem aplicar pressão alta intensa perto do gol adversário, mas mostrando pressão razoável em áreas avançadas.

No segundo tempo, como mostra o gráfico de PPDA por zona, a equipe claramente recuou mais, defendendo principalmente em seu próprio campo. Esta mudança estratégica visava atrair o Seattle para frente e explorar oportunidades de contra-ataque. A imagem abaixo mostra o PPDA do Botafogo por zona no segundo tempo.

PPDA do Botafogo por zona no segundo tempo contra Seattle Sounders.

No ataque, o Botafogo dependeu muito dos laterais Alex Telles e Vitinho, que tiveram papel fundamental na criação de chances. Ambos demonstraram forte capacidade técnica e estiveram envolvidos na maioria dos ataques da equipe — 9 dos 12 chutes do Botafogo tiveram contribuições de um deles.

Rede de passes do Botafogo contra Seattle Sounders.

Jogo 2: Botafogo vs Paris Saint-Germain

O Botafogo, apesar de ter menos de 15% de chance de vitória segundo a Opta Analyst, derrotou o campeão da Champions League por 1-0 em uma partida emocionante.

O clube carioca fez apenas uma mudança no time titular que enfrentou o Sounders na estreia do torneio. O atacante Mastriani foi substituído pelo meio-campo Allan. O técnico Renato Paiva optou por reforçar o meio-campo, já que enfrentariam um oponente muito forte nessa área. Paiva escolheu uma formação 4-3-3 em vez do 4-4-2 usado no jogo de estreia.

A dominância de posse do PSG foi evidente desde os primeiros minutos. Aos 14 minutos, o time francês já havia completado impressionantes 146 passes contra 17 do Botafogo. Esse padrão continuou por praticamente toda a partida — o PSG controlou a bola enquanto o Botafogo confiou em uma estratégia reativa focada na organização defensiva e transições rápidas. Ao final do jogo, os números refletiram esse desequilíbrio — o PSG terminou com 68% de posse, o Botafogo com 24%, e 8% do tempo com a bola em disputa. No geral, o PSG completou 706 de seus 766 passes, enquanto o Botafogo completou 215 de seus 278. A disparidade ofensiva também foi clara: o time francês recebeu 256 passes no terço final, contra apenas 32 do lado carioca.

Apesar de ter menos posse e menos oportunidades de ataque, o Botafogo foi decisivo em suas ações. Os ataques mais efetivos da equipe vieram pela direita, origem de todos os seus quatro cruzamentos — todos ocorreram antes dos 55 minutos, quando o lateral-esquerdo português Nuno Mendes entrou. Sua introdução fortaleceu a defesa do PSG, como tem sido destacado ao longo da temporada por suas fortes atuações.

Um aspecto que realmente se destacou foi a precisão na finalização. O PSG tentou 16 chutes durante o jogo, mas apenas dois foram no alvo. Em contraste, o Botafogo foi extremamente eficiente: fez quatro chutes e acertou o alvo com todos, demonstrando finalização notável. No ataque, o atacante Igor Jesus foi decisivo mais uma vez — com seu único chute do jogo, marcou o gol da vitória.

O Botafogo adotou uma postura mais defensiva, similar ao segundo tempo contra o Seattle Sounders. No entanto, desta vez suas linhas estavam muito mais compactas e próximas, permitindo muito pouco espaço para o PSG penetrar. A imagem abaixo mostra as ações defensivas do Botafogo — à esquerda, turnovers forçados e à direita, recuperações de posse.

Ações defensivas do Botafogo contra PSG: turnovers forçados (esquerda) e recuperações de posse (direita).

Mostra como o Botafogo defendeu com bloco baixo, recuperando a bola predominantemente em seu próprio campo defensivo.

Jogo 3: Botafogo vs Atlético Madrid

Precisando apenas de um empate para assumir a liderança do Grupo B, o Botafogo fez uma excelente performance defensiva, que era absolutamente necessária já que o Atlético Madrid entrou na partida sabendo que precisava vencer — especialmente considerando que se o PSG também vencesse, o Atlético teria que fazê-lo por mais de um gol para se classificar.

O Atlético Madrid teve a maior parte da posse, com 61% contra 39% do Botafogo, completando 508 passes contra 303 do time brasileiro, com o Botafogo fazendo apenas 93 passes no segundo tempo. O volume de chutes do Atlético também foi notável — teve 23 tentativas, mas apenas 5 no alvo, uma taxa de conversão ruim que reflete a defesa incrivelmente sólida do Botafogo. Mesmo com a falta de eficiência na finalização do Atlético, produziram um total impressionante de gols esperados (xG) de 3,03, mas conseguiram apenas um gol, sublinhando as deficiências ofensivas de Madrid.

O Botafogo repetiu o esquema que havia usado contra o PSG — um 4-3-3 com linhas muito compactas, confiando em transições ofensivas rápidas. Também foi notável que o Botafogo pressionou principalmente de seu próprio campo, com pouca pressão alta; isso é evidente no PPDA por zona da equipe.

PPDA do Botafogo por zona contra Atlético Madrid.

A imagem mostra o PPDA do Botafogo (passes por ação defensiva) em diferentes áreas do campo. Quanto mais vermelha a zona, menor o PPDA — em outras palavras, mais intensa a pressão. Quanto mais azul a zona, menos pressão a equipe aplicou. Analisando a imagem, podemos ver que a pressão do Botafogo estava principalmente concentrada em seu próprio campo, especialmente no primeiro quarto do campo.

Conclusão

Para resumir a fase de grupos do Botafogo em uma palavra, seria SURPREENDENTE. O Botafogo acabou em um dos grupos mais difíceis do Mundial de Clubes e ainda assim conseguiu se classificar, em segundo lugar, à frente de duas das principais equipes da Europa, até mesmo vencendo o campeão da Champions League. Segundo a Opta Analyst, antes do início do Mundial de Clubes, o Botafogo tinha cerca de 70% de chance de ser eliminado na fase de grupos, o que sublinha o torneio impressionante que a equipe está fazendo ao garantir essa classificação.

No geral, o Botafogo entregou uma performance excepcional, tanto ofensiva quanto defensivamente. No ataque, o destaque foi Igor Jesus, que marcou dois dos três gols da equipe no torneio até agora. Ele aproveitou ao máximo as chances que surgiram e foi crucial para a classificação do clube carioca. O jogador fez apenas 6 chutes na competição, registrando uma taxa de conversão de cerca de 33% — uma das mais altas do torneio até o momento.

Também é importante destacar a performance defensiva da equipe. Barboza e Jair jogaram em um nível extremamente alto, forçando as equipes adversárias a taxas de conversão de chutes muito baixas. As três equipes que enfrentaram o Botafogo — Seattle (21,7%), Paris Saint-Germain (12,5%) e Atlético Madrid (20,8%) — todas tiveram baixa precisão de chutes, o que fala muito sobre a solidez defensiva do Botafogo.

Comparação de precisão de chutes entre Botafogo e seus adversários.

O Botafogo teve uma fase de grupos excepcional, com cada jogador demonstrando exatamente por que foram coroados campeões da Libertadores em 2024 e mostrando o poder e a resiliência do futebol brasileiro contra a elite europeia.

Probabilidades de classificação do Grupo B antes do torneio.

O jogador em destaque do Botafogo nesta fase de grupos foi Alexander Barboza. Ele foi um dos pilares fundamentais por trás de sua classificação, com apenas 2 dribles completados contra ele em 3 partidas, liderando a equipe em desarmes, interceptações e desarmes por jogo.




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