Neste último domingo, 29/06, Flamengo e Bayern de Munique fizeram um enfrentamento entre a nata do que o futebol sul-americano pode oferecer (e possivelmente o melhor time do continente) contra um time da mais alta prateleira do futebol europeu (que não foi o melhor da última temporada) em um jogo marcado por várias coisas, mas principalmente pelo número de erros por parte da equipe carioca que levaram aos gols da equipe bávara, o que levanta o questionamento: essas falhas seriam apenas deméritos do time rubro-negro?
Resumo da Partida
Antes mesmo da bola rolar já havia um debate sobre a escalação feita por Filipe Luís, por contar com Arrascaeta, o artilheiro da equipe na temporada, mas que não costuma impor tanto vigor físico na hora de marcar pressão ou na hora de servir como uma válvula de escape em velocidade para o ataque, papéis que seriam melhor desempenhados por outro atleta, como por exemplo Bruno Henrique, o atacante que entrou no lugar do uruguaio na partida pela fase de grupos contra o Chelsea e mudou o andamento da partida. No entanto, qualquer que tenha sido o pensamento tomado pelo técnico brasileiro, foi completamente influenciado pelo que aconteceu nos minutos iniciais do jogo.
O ritmo de jogo, a estratégia e o nível de pressão que seria sentido ao decorrer dos 90 minutos foram gravemente influenciados quando aos 3 minutos e 45 segundos o goleiro argentino Rossi chutou uma bola em cima de Pulgar, que acabou resultando em um escanteio (pelo entendimento da arbitragem) que gerou um segundo, do qual saiu o primeiro gol da partida, um gol contra. Essa alteração no placar tão rapidamente já seria o suficiente para mudar todo o planejamento da partida, mas a blitz imposta pelo Bayern ainda estava em marcha total, quando o zagueiro francês Upamecano subiu da linha de defesa alemã para contestar um passe recebido por Arrascaeta, que sucedeu na finalização fatal de Harry Kane, ampliando o marcador.
Após essa sequência desastrosa de eventos, o time carioca conseguiu ter mais posse de bola e tentar pôr em prática sua ideia de jogo, levando a jogada do seu primeiro gol, fruto de um cruzamento escorado para a entrada da área com uma conclusão de Gerson, o que fez com que a imposição bávara voltasse com toda força.
Momento ofensivo da partida entre Flamengo e Bayern.
Como podemos observar no gráfico de ações no terço final de ataque, esse padrão se repetiu no intervalo entre o terceiro e quarto gol dos europeus, dando a impressão que a equipe alemã "tirava o pé" após deixar o resultado mais confortável, deixando mais a posse e espaço para que o time brasileiro trabalhasse as jogadas, o que resultou em um segundo gol após o cruzamento do meia uruguaio bater na mão aberta de Olise dentro da área, gerando um pênalti convertido com primor por Jorginho. Esse padrão se repetiu após essa redução na vantagem do placar, com o ritmo sendo imposto pelo Bayern e com a pressão em uma saída de bola em que Luiz Araújo tentou driblar perto da grande área defensiva, virando um arremate certeiro do artilheiro inglês.
Esta norma na dinâmica do jogo pode ajudar a explicar o fato de ao final da partida alguns dados apresentarem um Flamengo equivalente ou superior ao Bayern (como uma vantagem mínima em posse de bola, um maior número de finalizações, xG), embora a equipe carioca não tenha estado muito próxima de igualar o marcador (a chance mais próxima veio de uma cabeçada de Arrascaeta, aos 6 minutos de jogo), o eye test aponta o contrário, um Bayern que ditava o ritmo quando a vantagem diminuía e que não corria tantos riscos.
Análise Tática
Quanto à questão dos erros, forçados ou não, podem ser contemporizadores, em partes, pela diferença de qualidade entre os dois times em diversos aspectos, mas principalmente na efetividade de pressão e na eficiência na hora de punir os erros do time adversário, e uma das justificativas para essas questões pode ser, além da qualidade dos jogadores em campo, por conta do histórico das equipes alemãs em ter esse costume histórico de pressionar alto, afinal o gegenpressing vem de lá.
O conceito de marcar pressionando no ataque não é algo que foi criado recentemente, mas esse estilo de futebol, principalmente no contexto do futebol alemão, é atribuído ao técnico alemão Ralf Rangnick, que influenciou as gerações modernas de técnicos alemães, como Jurgen Klopp, Thomas Tuchel e Julian Nagelsmann. Além disso, a liga alemã é conhecida pelo alto nível de atleticismo imposto pelos jogadores, fatores fundamentais para que times como o Borussia de Klopp ou o Bayern de Munique de Hansi Flick pudessem estabelecer seus planos de jogo de maneira brutal, tendo vigor para subirem linha de marcação, atacarem espaços rapidamente, etc.
Esse futebol de pressão bem alta, combinado com a linha de marcação alta estão no DNA do clube há muito tempo, e além de terem sido muito bem refinados por técnicos recentes, como Nagelsmann e Hansi Flick, são postos em prática por Kompany, atual técnico, enquanto a efemeridade dos trabalhos de técnicos brasileiros juntas da falta de convicção em estilos de jogo fixos aos clubes, dificultam que o trabalho seja muito aprimorado por aqui, e que haja uma sequência aproveitada mesmo com a troca de técnicos.
Conclusão
No final das contas, a equipe brasileira fez o que podia, principalmente dadas as circunstâncias, e perdeu de maneira digna, e embora tenha estado longe de fazer uma partida pau a pau, não significa que a derrota foi um vexame ou algo do gênero, e essa derrota não pode abalar as estruturas tanto do plantel quanto do departamento de futebol inteiro pois a temporada está apenas em sua metade, com as partidas mais decisivas para competições nacionais e da Copa Libertadores bem próximas.
A partida entre Flamengo e Bayern demonstrou não apenas a diferença técnica entre os times, mas também a importância da consistência tática e da pressão eficiente no futebol moderno. Enquanto o Bayern mostrou sua tradição de pressão alta e eficiência na finalização, o Flamengo revelou fragilidades que precisam ser trabalhadas para competir no mais alto nível internacional.
A derrota, embora pesada no placar, serve como aprendizado valioso para o desenvolvimento do futebol brasileiro, mostrando que a evolução tática e a consistência metodológica são fundamentais para o sucesso no cenário internacional.
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