Introdução

Existe um time invicto em todos os campeonatos há exatamente um ano, desde maio de 2023. Campeão de sua liga nacional, finalista na Copa de seu país e na competição da UEFA. Em momentos que parece que esse time finalmente vai perder, ele retorna com uma vontade que parece ser inabalável, faz gols nos acréscimos e mantém sua invencibilidade e sequência nos campeonatos. Como um time que não chamava a atenção no futebol há alguns anos conseguiu se tornar uma potência no futebol europeu, tendo a maior sequência invicta da história? Nesse conjunto de posts, o ACE Laboratory vai analisar e identificar o estilo de jogo do Bayer Leverkusen e de seu técnico Xabi Alonso, tentando trazer os motivos dessa jornada magnífica que o time vem fazendo em 2024.

Como é o estilo de jogo de Xabi Alonso?

Xabi Alonso, ex-jogador campeão de tudo possível e conhecido por ser um jogador extremamente técnico e analista, trabalhou em times gigantescos com treinadores excelentes, como Mourinho, Guardiola e Ancelotti. Cada um com seus estilos diferentes, Xabi conseguiu absorver as melhores qualidade de cada um, e com isso se tornou um grande comunicador, estrategista e apreciador do futebol. Após terminar o curso da UEFA, ele começou no Real Madrid sub-14, e logo depois foi para o Real Sociedad B. Lá, habilidades técnicas e controle de bola foram o foco, e o clube foi promovido para a segunda divisão pela primeira vez em 60 anos. De lá, o Bayer Leverkusen enxergou em Xabi alguém que poderia salvar o time da situação crítica do rebaixamento, e a história começou a ser feita. Mas então, como joga o Bayer Leverkusen, agora comandado por Alonso por mais de um ano?

Bayer Leverkusen sem a posse

No setor defensivo, o time de Alonso marca alto na saída de bola dos adversários em bloco médio, forçando ao máximo o erro do adversário para obter a posse da bola. Dependendo da partida, o campeão alemão pode ter duas formações diferentes ao se defender: um 5-2-2-1, pressionando a construção de jogadas do adversário com 5 jogadores, povoando o meio campo e forçando jogadas pelas pontas, onde os alas pressionam e roubam a bola; ou um 4-2-3-1, que permite uma saída de bola facilitada ao roubar a bola do oponente.

Junto disso, o Leverkusen faz o uso da pressão pós perda de posse, mais comumente conhecido como Gegenpressing. Xabi precisou de somente meses para dar cara e corpo à tática de marcação e fundamentar a equipe em uma das marcações mais sólidas de todo o campeonato, tendo até o final da Bundesliga uma eficiência de quase 54 recuperações de posse por jogo com o uso de tal arma tática.

O time também foi o que menos sofreu gols em toda a Bundesliga, sofrendo apenas 24 gols, provando a eficiência do estilo de jogo.

Bayer Leverkusen com a posse

Classificado como um meio termo do estilo posicional de jogo de Pep Guardiola e o Relacionismo visto no Fluminense de Fernando Diniz, Xabi Alonso treina o time para uma saída de bola que depende do formato atual em campo. O estilo de jogo, que utiliza muitas trocas de passes, é evidenciado na rede de passes do time, onde é possível observar a formação de “triângulos” que permitem a um jogador diversas opções para trabalhar a bola.

Muitas vezes, o ala Grimaldo atua defensivamente na esquerda, deixando dois zagueiros no meio e um lateral na direita para abrir espaços no campo e permitir as “third man combinations”, onde 2 jogadores (geralmente Xhaka e Palacios) passam rapidamente entre si para chamar marcadores e criando espaço para um terceiro jogador (geralmente Wirtz) receber a bola, algo característico do Relacionismo.

Assim, os alas têm uma participação muito mais significativa no jogo, tanto ofensiva quanto defensivamente, podendo alternar entre os lados do campo para atacar e defender. O que pode ser notado na rede de passes da partida contra o Augsburg, onde o ala Frimpong aparece mais avançado do que todos os outros jogadores do Bayer.

Ao empregar essa tática, Xabi maximizou as habilidades técnicas individuais de seus jogadores de lado do campo, como Frimpong e Grimaldo, com esses contribuindo para 39 gols na Bundesliga. Em outras palavras, quase metade dos gols marcados pela equipe passou pelos pés desses dois jogadores.

O uso dessa tática é evidenciado no número de passes realizados pelo Bayer, que é o maior da Bundesliga em 23-24. Além disso, os 4 jogadores avançados se movimentam bastante, de forma que impedem os zagueiros adversários de subirem a marcação.

Porém, também é comum visualizar o time saindo com 3 zagueiros, explorando tanto as laterais com os alas mais avançados (Grimaldo e Frimpong geralmente) e os meio-campistas e atacantes dando opções mais próximas e não posicionais quanto pelo meio do campo, com transições rápidas para o ataque geralmente arquitetadas por Wirtz ou com passes diretos da zaga para o ataque nos espaços vazios formados pela movimentação. Sendo um exemplo disso o grandioso número de passes progressivos por partida.

Caso os oponentes fiquem muito rígidos centralmente, o time começa a formar padrões de diamantes estreitos, o que permite que o Bayer continue praticando seus passes curtos e dinâmicos para chegar no último terço do campo. Outra possibilidade é que, caso os oponentes pressionem a troca de passes curtos do Leverkusen, a bola seja movida para o flanco oposto do campo, que terá bastante espaço livre.

Ademais, não é só de movimentação e passes magistrais que o time Alemão precisa para fazer gols na temporada, visto que cerca de 10% de todos os gols feitos pela equipe de Xabi foram de bola parada, além, é claro, dos gols vindos de contra-ataques, também comuns no time alemão.

Último terço do campo

O último terço de ataque do time alemão é quase que imponderável. O avanço dos alas pelas laterais do campo misturado com os meias infiltrando na área com uma pitada de acerto em chutes de fora da área formam a fórmula mágica de Xabi Alonso para a incrível efetividade do time. Assim, uma estatística que mostra tal imprevisibilidade do time comandado pelo craque espanhol é a porcentagem de ataques por cada terço do campo ofensivamente, sendo esquerda, meio e direita com 33%, 34% e 33% respectivamente.

Tal ofensividade provoca não só um enxame de gols e chances criadas para o time alemão, mas também é uma das razões da invencibilidade do time, que, ao estar atrás no placar, sempre consegue de alguma forma com as táticas ensinadas por Xabi, seguido de um pouco de sorte, fazer os gols e manter sua invencibilidade intacta por toda a temporada.

Uma tática comum é a seguinte: ao chegar no último terço do campo os alas avançam e a formação do time vira um 3-2-5, com os jogadores centrais subindo para receber a bola e criar mais opções de jogadas, criando uma vantagem numérica que torna o time imprevisível e mata a zaga adversária. Durante esse avanço, outros jogadores sobem para ocupar o meio de campo.

O time é tão eficiente que está no Top 3 em chances criadas por bola rolando, mas em comparação tem poucas chances criadas por bolas paradas.

Fraquezas

Em função do relacionismo, se o time perde a bola na área de ataque e não consegue pressionar rapidamente, o oponente tem muito espaço nos cantos do campo (onde os laterais deveriam estar), visto que os jogadores se concentram de forma comprimida para as tabelas e triangulações efetivas. No entanto, caso os meio-campistas em recomposição forem cobrir os flancos, a área central fica muito enfraquecida e abre oportunidades. O sistema depende completamente da perfeição e de poucos erros dos jogadores. Um exemplo disso é observado no jogo contra o Qarabag fora de casa pela UEFA Europa League, no qual os dois gols sofridos foram em perdas de posse e contra-ataques efetivos por parte do time do Azerbaijão.

Mas, como podemos ver pelos resultados do time na temporada e suas estatísticas de saldo de gols, o risco vale a pena.

Conclusão

É notório que Xabi Alonso fez misturas e acrescentou seu próprio tempero para formar a máquina detentora de uma performance sem derrotas na Bundesliga. Porém, um dos principais pontos desse time é a particularidade de cada jogador que se encaixou no formato do treinador Espanhol englobando também suas próprias características de jogo. Ao enfrentar Xabi Alonso no xadrez tático, não se olha para suas peças de jogo como cavalos, torres ou peões, e sim para os vinte e quatro jogadores com características diferentes que mudam o estilo de jogar do time alemão e são o motivo de toda grandiosidade conquistada na temporada e a singularidade dessa equipe que encantou o mundo. Para isso, na próxima postagem analisaremos a evolução desses jogadores e do time até chegar no que todos conhecem hoje como o primeiro time a conquistar o título invicto da Bundesliga.