Introdução

Neste post, iremos fazer uma análise sobre a evolução das seleções na Copa do Mundo Feminina, comparando o desempenho das principais seleções na Copa de 2019 e 2023. As seleções analisadas serão: Espanha, atual campeã; a Inglaterra, atual vice-campeã; os Estados Unidos, campeões em 2019 e a Suécia, que ficou na terceira posição nas duas últimas edições.

Retrospecto das Equipes

Espanha

A Espanha se afirmou, após vencer a Copa do Mundo de 2023, como uma das melhores equipes do futebol mundial. Com uma excelente campanha na última edição, venceu o título em uma final contra a Inglaterra (essas duas equipes foram o assunto do primeiro post da nossa série.

Porém, em 2019, a situação da Espanha era bem diferente. Com menos jogadoras consolidadas e sem várias das jogadoras jovens que fizeram a diferença em 2023, como Salma Paralluelo, a Espanha passou na fase de grupos pelo critério do saldo de gols, com uma campanha abaixo da média (1V, 1E, 1D). Nas oitavas, foram eliminadas pelos Estados Unidos, vencedores daquela edição.

Inglaterra

A Inglaterra apresentou boas campanhas nos últimos dois mundiais. Em 2019 terminou em quarto lugar, perdendo para a Suécia logo depois de perder nas semifinais para os Estados Unidos, que foram campeões daquela edição. Além disso, como falamos, a seleção inglesa é a atual vice-campeã do mundo, derrotada na final contra a Espanha.

Em 2019, apesar de ter caído em um grupo difícil, com Japão, Argentina e Escócia, não enfrentou dificuldades e passou em primeiro com 3 vitórias em 3 jogos. No mata-mata, foram derrotadas apenas nas semifinais por 2x1 em uma partida contra os Estados Unidos.

Estados Unidos

Na Copa de 2019, os Estados Unidos conquistaram seu quarto título mundial (venceram também 1991, 1999 e 2015), sendo o segundo consecutivo, em uma final contra a Holanda. Nesta edição, as campeãs bateram um recorde que é mantido até hoje: equipe com mais gols em uma edição (26!).

Entretanto, na Copa de 2023, a seleção dos Estados Unidos foi eliminada nas oitavas de final, em uma disputa de pênaltis contra a Suécia. Essa campanha pode ser considerada frustrante e foi marcada por uma grande queda de desempenho do ataque estadunidense (veremos o porquê na análise a seguir).

Suécia

A Suécia vem acumulando bons resultados nas últimas edições da Copa do Mundo. Em 2019, conquistou o terceiro lugar, tendo eliminado seleções fortes no mata-mata como Alemanha e Argentina. Nesta edição, a Suécia perdeu apenas para as duas finalistas: os Estados Unidos (na fase de grupos) e a Holanda (na semifinal).

Em 2023, a Suécia repetiu a campanha de 2019 e conquistou novamente o terceiro lugar. Dessa vez, perdeu apenas um jogo (contra a Espanha, seleção campeã, na semifinal) entre os 7 disputados. Na disputa pelo terceiro lugar, a Suécia venceu a Austrália por 2x0.

Comparação entre Copas

Nessa seção, vamos analisar as equipes através de diferentes gráficos de dispersão. A ideia é conseguir comparar tanto a evolução (ou a ausência dela) de uma equipe de uma Copa para a outra, além de uma comparação geral entre todas as campanhas das equipes citadas até aqui.

Passes e Progressão

Primeiro, é importante falar que atualizamos a nossa definição de ação progressiva em relação ao último post.

Definição de passe progressivo: Ignoram-se ações nos primeiros 30% do campo. Obrigatoriamente reduzem em no mínimo 20% a distância da bola para o centro do gol adversário. São contadas apenas passes bem-sucedidos que sejam finalizados mais próximos verticalmente ao gol adversário ou que tenham seu ponto final dentro da grande área do oponente.

Gráfico relacionando passes por partida e passes progressivos por partida

Analisando os passes e a progressão dessas equipes, existem alguns tópicos a ser destacados:

- É importante destacar a diferença na quantidade de passes por partida da Espanha nas duas campanhas, com a Espanha de 2023 sendo, com sobras, a equipe com mais passes e passes progressivos entre todas que disputaram as duas copas. Essa é uma clara consolidação do estilo de jogo fundamentado em troca de passes, posse de bola e pressão que é implementado tanto na seleção feminina quanto na masculina.

- Todas essas equipes (consolidadas no cenário de seleções) passaram a realizar mais passes na transição de uma Copa para a outra, exceto a seleção dos Estados Unidos. Talvez seja uma tendência evolutiva do futebol de seleções feminino: a troca de passes e a proposição do jogo são fatores-chave para o sucesso.

Chutes e Gols Esperados

Gráfico relacionando chutes por partida e xG por partida

Nessa gráfico relacionando a quantidade de chutes por partida ao xG acumulado por partida (desconsiderando pênaltis), temos as seguintes observações:

- Novamente, a evolução da Espanha merece destaque. A equipe teve melhorias consideráveis no ataque, se tornando o time com mais chutes e gols esperados entre todas as equipes nas últimas duas edições de Copa do Mundo.

- Apesar de um aumento razoável nos chutes, os Estados Unidos tiveram uma diminuição no seu xG se comparados a 2019, indicando que a equipe diminuiu, na média, a qualidade das suas chances de gol. Além disso, a eficiência ofensiva da equipe também diminuiu drasticamente. Desconsiderando os pênaltis, os Estados Unidos de 2019 tiveram um saldo positivo de 8.63 (!!!) na diferença entre gols e xG. Em 2023, o saldo foi de -3.01 .

- A Inglaterra de 2023, mesmo sendo um destaque na quantidade de passes e passes progressivos , não tem o mesmo impacto quando estamos falando da finalização das jogadas. Entre as equipes comparadas, é a que tem menos xG por partida (1.26), corroborando o que falamos no nosso primeiro post quando comentamos que a Inglaterra de 2023 tinha um estilo de jogo bastante metódico. Mesmo com uma capacidade boa de progressão, a equipe não arrisca muitos chutes e, consequentemente, não acumula muitos gols esperados se comparada às outras seleções de ponta.

Considerações finais e conclusão

Durante todo o post, focamos a comparação entre seleções consolidadas no cenário do futebol feminino (talvez a menos consolidada dentre essas seja a Espanha de 2019, fato que apenas engrandece a campanha vencedora de 2023). Assim, era natural que todas as seleções, mesmo com diferenças de peças e estilo de jogo, estivessem “bem colocadas” nos gráficos mostrados. Pelo menos nos dois gráficos exibidos, a previsão realmente se concretizou, com todas as 8 equipes estando acima da média nas 4 métricas utilizadas para a comparação.

Assim, finalizamos mais um post da nossa série sobre a Copa do Mundo Feminina de 2023, e o quarto post será o último da série. Fiquem ligados para os próximos posts!